Mudar os móveis de lugar
Desde quando li “Um teto todo seu” da Vírginia Woolf que ando obcecada com o tema da casa. Meu hobby favorito tem sido procurar apartamentos no quinto andar e imaginar como seria se a minha vida coubesse ali e meu atual problema de estimação é: “Onde será que pode caber um piano no meu apartamentico?”
A história que está alugando um triplex na minha mente começou naquele momento de limpeza dos arquivos quando a gente tira tudo dos armários e prateleiras do google drive e vai reorganizando o que vai pra publicação no instagram, o que entra na gaveta pra edição e o que precisa ser maturar mais um pouquinho em cima do armário inconsciente. É mais fácil pensar no desenrolar de uma história com a casa mobiliada do que ver uma sala vazia com as paredes brancas e tentar imaginar como pode ser a decoração do lugar.
Só que com o passar do tempo algumas coisas começam a incomodar: um personagem vazando no encanamento e mofando uma parede da história, uma lâmpada queimada que não tá iluminando bem algum arco narrativo, um capítulo meio trabolhento que fica ali atrapalhando a passagem de quem vai ler. Chega uma hora que esses pequenos reparos criativos se acumulam e a escrita fica inabitável.
Uma estratégia possível é visitar outros livros e admirar a distribuição dos capítulos e a decoração das palavras ou chamar um profissional pra orientar na reforma. Só não vale cair na tentação de achar que a grama do vizinho tá mais verde ou sabotar a obra com “mas tu fez quatro anos de Letras pra não saber editar o próprio livro?”
De um jeito ou de outro, hoje eu criei coragem pra rever a planta do livro. Consegui identificar três vigas de sustentação, duas delas estão bem conectadas e tem outra que precisa de mais cuidado na fundação, isso significa que é hora de escavar mais referências. Eu posso me aprofundar no assunto, mas nesse caso a gente passa a falar sobre arqueologia.
