Isso não é literatura, é um desabafo.
Recentemente notei que no fluxo das minhas conversas, não importa se rasas ou profundas, o que mais emergia era: Não sei como explicar. Não sei como dizer. Não sei que palavra usar.
Comecei a justificar essa estiagem verbal com o velho mito da profissão. Eu trabalho com língua estrangeira e para me redimir da culpa de ensinar uma língua e uma cultura que não é minha, vivo imersa nas palavras que pagam os boletos. Mas meu coração, quando se inunda é em português.
Foi então que enxerguei a verdade cristalina: eu estava me represando. Dar vazão aos sentimentos só era permitido uma vez por semana, das 9h às 9h40 na terapia. E às vezes a conta-gotas em algumas poucas conversas aos finais de semana, mas com cuidado para não nublar o clima.
Ainda me falta folego para ir buscar as palavras em águas mais profundas. Mas continuo a nadar.
O problema da escassez de palavras é verdade. E pra sanar essa dor eu fiz uma jornada linda (e meio involuntária) entre taças de vinho, terapia, socorro do amigos e vídeos de auto-ajuda.
Decidi ao fim do dia, que o remédio para meu problema era ler mais poesia. Felizmente os astros se alinharam para que justo neste momento eu fizesse um curso de escrita criativa que me deu as indicações certinhas de como ler a bula.
No curso de escrita criativa, a professora Julie Fank, citou a poeta Alice Ruiz que disse assim: -Tira os Eus e tira os Vocês, o que sobra? Se não sobrar nada é apenas um desabafo.
Tentei uma porção de rascunhos antes de conseguir publicar sobre quando as palavras começaram a me escapar, mas no fim das contas, noves fora zero, continuou sendo um desabafo. Só que agora é um desabafo todo trabalhado com vocabulário previamente selecionado.
Ps.:No começo do texto eu não coloquei aspas pq foi citação de uma anotação do que eu ouvi que ela falou, mas tenho medo da internet, então achei melhor deixar tudo assim explicadinho).