Filme: Nome Próprio (2008)
Assisti esse filme pela primeira vez em Lorena com uma amiga do colégio. Naquela época eu ainda não conhecia o pessoal artista-descolado que fazia coisas legais na cidade ou mais provavelmente eles também eram adolescentes que, como eu e a minha amiga, não tínhamos muito acesso à movimentações culturais. Então, o jeito era aproveitar o que tinha. Quando tinha.
O evento da ocasião era um clube de cinema na Casa da Cultura (qualquer dia desses eu faço um tour pelo centro histórico pra vocês conhecerem a casa dos barões do café). Imaginem uma sala pequena de um sobrado colonial, cadeiras de plástico, o poster do filme pendurado ao lado da porta. Meia-dúzia de gatos pingados, o produtor do evento e o projetor.
Não sei se a “organização” do “evento” se atentou à classificação indicativa do filme, mas definitivamente aquilo não era para o meu bico. Pelo menos não naquele momento.
Acontece que naquela época eu já sabia que queria ser escritora (eu sempre soube), mas com o conhecimento de mundo que era permitido à uma menininha católica do interior, eu saí de lá chocada e ofendida.
— Não é possível que pra escrever a gente tenha que se submeter à tudo isso.— foram as minhas palavras ao sair daquela sessão do clube do filme que começou e terminou sem nenhum tipo de roda de conversa ou debate.
Hoje eu sei que não precisa se submeter à nada daquilo pra ser escritora, mas se quiser pode. É por isso que depois de quase 10 anos eu voltei pra esse filme.
Voltei pq agora tenho a mesma idade que a Camila e nós duas já podemos conversar de igual pra igual. Me surpreendi ao me identificar em alguns caminhos por onde ela passou, mas não foi surpresa nenhuma que a nossas escolhas tenham sido diferentes. Diametralmente opostas, eu diria.
Eu luto com todas as minhas forças pra não viver em função da paixão de um homem e jamais aceitaria qualquer condição que me tornasse economicamente vulnerável. Por outro lado, eu conheço bem esse ímpeto de provocar histórias na minha vida só pelo gostinho de poder escrevê-las depois.
Eh, Camila… a gente pode se cruzar em alguma fila de balada na Augusta ou dividir a mesa da biblioteca no CCSP, mas não levaria muito tempo pra você me achar sem graça e pra eu te achar imatura. E provavelmente nós duas teríamos razão.
Ficha catalográfica — FILME
Título: Nome próprio
Ano de lançamento: 2008
Diretor: Murilo Salles
*Baseados em publicações de: Clara Averbuck