Desculpa mãe, mas esse poema tem palavrão

A Leila escreve aqui
2 min readFeb 14, 2022

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sovacos, buço
palavrão de criança
menina boazinha tem, mas não pode falar

nádegas, mamilo, buceta
aula de biologia da 7ª série
puberdade nos dá tempo pra tudo
especialmente pra guerra

barriga chacoalhando
na balança
gostosura despencando

mulher é
o que as revistas dizem que é
moda

meia luz
as almofadas
as acrobatas que dão no lustre
4.8 na escola richter

essa chuva
aquele fogo de artifício mixuruca

Esse poema foi criado em uma oficina do coletivo Mulheres que Escrevem orientada por Taís Bravo. A brincadeira era o seguinte: recortar poemas de acordo com categorias tipo jogo de Stop e remontar as peças para criar um poema nosso. Até aí tudo bem todos as possibilidades de categorias e remontagem que usamos na oficina eram todas muito divertidas. Só que o pulo do gato eram as referências.

Quando me inscrevi para as oficinas de verão do coletivo eu buscava justamente trazer para o meu repertório, veja só, mulheres que escrevem. Mas agora eu entendo que fui muito ingênua na minha ideia do que seria uma escrita feminina. Sei lá o que eu esperava, talvez uma escrita com letra cursiva, cheirando a perfume e textura de renda? E ainda bem que não foi isso — quer dizer — nada contra, até já li livros que são.

O que eu encontrei foram textos de mulher. De uma intimidade que só compartilha quem entende os códigos de uma fila de banheiro na balada. Encontrei ali minha realidade quotidiana, mas não identifiquei o lugar comum dos meus textos. E apesar da diversão dos jogos de escrita, o meu maior aprendizado nessa brincadeira pensar nos meus textos sem o pó de arroz nem lacinho.

O que eu escreveria se não fosse minha educação católica e consciência de que minha mãe vai ler e vai me ligar imediatamente pra dizer: “Coisa feia menina, você escreve tanta coisa linda e agora vem com essa marmota!” Nessa hora que eu consegui me apropriar das regras do jogo e criar algo que fosse meu, mas com palavras que não poderiam ser minhas.

Peguei na marreta e quebrei minhas barreiras. Gostei da paisagem livre, mas ao mesmo tempo sinto o medo de estar exposta. Mas como tudo nessa vida, se dei o primeiro passo é pq tive coragem. E agora sei como desconstruir o que trava minha escrita, um poema por vez.

Referências poéticas para esse jogo:

Poema 2 de Natasha Felix em Use o alicate agora

Poema Queda livre de Flávia Peret em Mulher bomba

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Gosto de olhar as estrelas e inventar um nome pra cada uma delas.

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